Aviso: Vai ter muito spoiler sobre o anime, então leiam por conta própria e risco.
Por MIKA
O anime da analise de hoje é um que me pediram muito pra
analisar, e acho bem merecedor isso: Puella
Magi Madoka Magica, mas conhecido como Mahou
Shoujou Madoka Magica. Uma coisa que preciso falar sobre este anime antes
de fazer a análise: Se você acha que é
um anime infantil só por ser de garotas que se transformam e combatem o mal,
numa fórmula a lá Sailor Moon, vou te
dar um conselho: Esqueça tudo que você sabe sobre garotas mágicas. Esqueça. O
que você verá aqui vai muito além do que você imagina. Confesso que minha
primeira impressão sobre Madoka foi isso, mas quando acabei de ver, percebi que
eu estava muito enganado. O que eu vi foi algo bem diferente do imaginado. A
série contou com 12 episódios e foi rodeada de situações complicadas. Primeiro
ameaças de cancelamento devido a cenas mais fortes de violência. Depois teve
seu final adiado pelo terremoto que afetou o Japão em 2011. Fato é que ela
conquistou admiradores, fãs e “seguidores” em seu período de exibição. Sua
venda de DVD’s e Blu Rays liderou a Amazon e a expectativa da mídia foi enorme,
chegando até mesmo a ser estampada no jornal de maior importância no Japão. O
estardalhaço foi muito, mas foi merecido. Madoka marcou, e será para sempre um
anime que ficará guardado na lembrança daqueles que o assistiu. Mas o que ele
tem que o faz ser um anime tão comentado? O que o difere dos mahous shoujos
tradicionais? Vale lembrar que este texto vai mais por minha opinião, por isso
podem me criticar nos comentários e dizer sua opinião sobre o anime em questão.
Então, vamos seguir em frente!
A história
A história gira em torno de Madoka Kaname, uma estudante de 14 anos que vive com sua mãe, pai e
irmão mais novo. Possui amizades na escola e vive uma vida comum, como qualquer
garota da sua idade. Uma noite, ela sonha com uma garota lutando em um mundo
destruído, e no dia seguinte, a mesma garota aparece como nova aluna de sua
classe. Neste mesmo dia ela escuta uma voz pedindo por ajuda e decide ir atrás
daquele pedido. Ela então encontra uma criatura “fofinha” chamada Kyuubei, que estava sendo perseguido
por alguém. Kyuubei conta a Madoka e sua amiga Sayaka Miki que ele é o responsável por “recrutar garotas mágicas”
para proteger o mundo da ameaça de bruxas, seres monstruosos que se aproveitam
dos medos das pessoas e os usam para aterrorizar, matar e consumir a alma. Tudo
que Madoka e Sayaka têm a fazer é se transformar em Mahou Shoujo em troca de um
desejo qualquer a ser realizado. As duas começam a pensar no que elas gostariam
de pedir, enquanto recebem “treinamento” de outra garota mágica, Mami Tomoe, uma estudante mais velha do
mesmo colégio que elas e que luta a mais tempo contra as chamadas criaturas. E
no meio disso tudo, elas descobrem que a aluna transferida se chama Akemi Homura, que guarda segredos e
vive a todo instante tentando separar o “animal” das garotas, tentando
convencê-las de não se tornarem garotas mágicas. A partir daí, Madoka começa a
perceber que a “maravilhosa proposta” de Kyuubei não é tão maravilhosa assim, e
que por trás de um mundo mágico, existe outro, sombrio e perigoso.
Considerações
Técnicas
A partir daqui, alguns spoilers serão
feitos. A maioria pode influenciar no futuro da história e do seu entendimento,
portanto leiam por sua conta e risco.
Madoka foi um grande hit de 2011. Vendeu bastante, rendeu e
ainda está rendendo spin offs, mangás, light novels, action figures e diversos outros
produtos relacionados, além de vários outros animes fazerem referência a
Madoka, como por exemplo, o engraçadinho Outbreak
Company. Mas de onde vem o sucesso absoluto de Madoka Magica? Vamos por
partes.
A série é um verdadeiro grande tapa na cara de quem achava
que anime com garotas mágicas são sempre infantis. Aquela imagem colorida que
temos em nossa mente é massacrada. A começar pelo cenário: A cidade tecnológica em que as garotas vivem passa um ar de frieza, e
o mundo aonde elas vão enfrentar as bruxas é totalmente sombrio e insano. Usou
fórmulas de animes já existentes e soltou na cara do telespectador um “E se nem
tudo for uma maravilha?”, “E se por trás de um animalzinho aparentemente fofo
exista um ser sem sentimentos e que poderia colocar sua vida em perigo?”. Tudo
é posto em prova: o surgimento da expressão “grandes poderes exigem grandes
responsabilidades”, a constante escolha do ser humano em suas decisões, a
“troca equivalente” onde tudo tem um preço. O conceito de bem e mal. Em alguns
momentos pensamos “realmente existem vilões e heróis nessa série?”.
A história tem personagens que são a linha tênue entre a
ficção e a realidade: Kyuubei não foi um vilão. Madoka não foi uma heroína.
Kyuubei pôs a prova o que todo mundo sabe, que decisões erradas podem ter
consequências. Nenhum desejo é feito sem esforço, sem sacrifícios. Da mesma forma que Madoka não quis em
nenhum momento passar a mensagem de que ela salvaria a todos. Ela foi uma
garota comum, com medos, crises, que sofria por perder as amigas, mas que ao
mesmo tempo se sentia impotente. Mesmo sua escolha final de se “sacrificar” e
ser esquecida por todos em troca do equilíbrio e do fim das bruxas não a leva a
querer ser uma heroína. Sua ideia é uma só: Fazer com que a esperança
jamais fosse esquecida. E voltando ao Kyuubei: Toda a trama acabou
sendo desenvolvida justamente pela sua presença, não como vilão, mas sim como o
anti-herói. Em nenhum momento ele se importou com o bem estar das
garotas. Também em nenhum momento ele se importou com a destruição da
terra. A escolha era sempre das garotas, cabia a elas decidir o futuro. Tudo
que ele queria é que seus objetivos fossem alcançados, e de certa forma foram. Aliás,
vamos traçar um paralelo entre Kyuubei e outro personagem muito conhecido: Ryuuku
de Death Note. O shinigami queria simplesmente acabar com se tédio,
e para isso laçou o caderninho na Terra, e acompanhou Kira em sua trajetória.
Assistia os crimes de Kira calado, nada vez em relação ao que acontecia, e não
se importou nem um pouco em matar o Kira. Vejam, estou comparando Kyuubei com
Ryuuku pois ele age como o nosso querido shinigami: Para ele, que se dane o que
iria acontecer com Madoka e suas amigas, desde que seus objetivos fossem
cumpridos, e não tava nem aí se suas açõs iriam prejudica-las. À todo momento
temos a disputa e a contraposição entre ele Homura, uma verdadeira oposição de
pensamentos e ideais (tipo a oposição entre Kira e L). Kyuubei quebrou um
aparente dogma: Que todo animalzinho que acompanha garotas mágicas (tipo o Kero
de Sakura Card Captors ou a Luna de Sailor Moon) precisam ser confiáveis e
engraçadinhos.
As personagens balanceiam entre o real e a fantasia.
Nenhuma toma atitudes ou tem sentimentos surreais. Cada uma tinha seus próprios
conflitos. A começar Sayaka que queria ajudar o interesse amoroso dela a voltar
a tocar violino. Ela sacrificou tudo que tinha por isso, e ainda usou esse
poder para salvar uma amiga. E consequentemente, essa mesma amiga viria tomar o
garoto para si. Não tem momentos em que você fica pensando que o que
inicialmente era certo, mais tarde te traria consequências? Você ajudou uma
pessoa, e descobre que usa ajuda iria mais pra frente ser usada contra você.
São questões mais reais do que imaginamos. Mesmo trazendo a imagem de ser um
anime fantasioso, seus personagens conseguem ser mais humanos do que
imaginamos.
Aliás, um fato interessante: Segundo a maioria que viu Madoka Magica, a protagonista deste anime não
é Madoka, e sim a Homura. Embora o anime tenha levado o nome de Kaname Madoka (que,
aliás, passa o anime inteiro como uma garota normal, e só vira uma garota
mágica no último episódio), e de sua
escolha ter sido a grande conclusão para a história, é em torno da Homura que
tudo acontece. A todo o momento ela é a personagem principal, todo o climax
acontece por causa das viagens interdimensionais dela, da vontade de salvar sua
melhor amiga da morte, do sentimento puro de amor entre as duas personagens. O
episódio 10 foi essencial para mostrar isso, já que é nele que a história
realmente mostra como se desenvolveu até chegar ao primeiro episódio da série.
Desde o começo os desejos de Homura de cumprir sua promessa e seu poder de
viajar no tempo foi o grande determinante para toda a conclusão do anime. Sua
amizade com Madoka é emocionante, de cortar o coração ao meio na cena em que
elas se despedem em um último abraço. Incrível ver que um anime consegue passar
tão bem um sentimento dessa forma. É o amor na mais simples e pura
forma.
Outra que mercê destaque é Kyoko,
que se sacrifica somente para salvar Sayaka de seu erro, matando as duas. Ela
esteve desde o começo “lutando” com Sayaka e tentando impor a vontade de tirar a
garota de uma luta sem fim. O preço foi caro, e ambas acabaram pagando com a
vida em uma das cenas mais emocionantes da série. Aliás, a amizade de Sayaka e
Madoka é uma das coisas mais lindas que podemos ver. Ali, há uma prova viva de
que amigas de verdade realmente ficam juntas até nas situações mais difíceis. Madoka
tentou a todo instante evitar o pior para sua amiga, esteve ao seu lado, errou
em diversos momentos, mas acima de tudo sempre lhe trazia a calma e a segurança
de que tudo estava melhor quando estava ao seu lado, seja em um dos abraços ou
na realização de ver seu amado tocando violino pela última vez. Aonde vocês não
vêm amizade verdadeira?
Não dá para falar de todos as
personagens, eu preferi dá mais foco nas que achei impactantes. Mas só pelos
personagens, o anime já ganha um brilho. Vamos para a trama. O anime, como
falei, dá um soco em sua cara como se dissesse ‘”Quem disse que todo mahou
shoujo precisa ser fofinho e infantil?”. Madoka foge do tradicional. É
um anime violento, com mortes e cenas impactantes. A cena em que
Mami perde a cabeça no episódio 3 na luta contra uma bruxa é aterrorizadora e
talvez um pouco perturbadora, mas serve para ponto de choque do anime. A
partir dali vemos o real significado da série, que mesmo boa, ainda não havia
ficado claro. Não seria algo comum, isso já ficava claro. O desespero entre as
personagens começava a tomar forma, as brigas entre elas também. Dúvidas,
problemas pessoais e tudo que uma garota de 14 anos está acostumada
a passar se misturavam com a dúvida de ter um desejo ou não
realizado. A escolha de assumir novas responsabilidades
começava a tomar uma dimensão assustadora. Um dos grandes atrativos da
série é que em nenhum momento do anime a história se perdeu. Ela
foi totalmente bem amarrada do início ao fim e isso é inegável. Confesso que me
pareceu um pouco confuso seu desenrolar, mais isso porque eu não estava
acostumado com um anime assim. A cada episódio que se decorre até o final a
sensação de escuridão e da falta de luz no anime é cada vez mais notável. No
último episódio não temos nenhum ponto de “luz natural”. Outra coisa
interessante: também no último episódio a mãe de Madoka diz que sua filha
tem mudado muito, que não desabafa mais em nenhum momento com ela e que se
tornou mais fechada. E isso realmente acontece! Percebemos a
constante evolução da personagem e vivemos juntos a ansiedade de
quando ela iria aceitar a proposta de Kyuubei de se transformar em uma Mahou
Shoujo. Aliás, um ponto que achei legal foi o fato dele passar uma mensagem
nada clichê: Tem sempre alguém lutando por nós, sejam nossos pais ou amigos, e
devemos agradecer a eles, e continuar seguindo em frente para que o esforço de
todos valha a pena.
A animação é boa, temos um traço diferente (feito
por Takahiro Kishida, o mesmo de Durarara!! e Noein), que
ao primeiro olhar parece “rascunho”. O anime chama a atenção pela
mistura com elementos surreais, cenários que são composições como em um
recorte e colagem de imagens de revistas e objetos aleatórios. A trilha sonora
é um show a parte, e além dos temas “Connect” de ClariS e “Magia” de Kalafina,
e vale destacar toda a composição feita por Yuki Kajiura, o que é a uma farta
representação de qualidade. A direção de Akiyuki Shimbo (o mesmo diretor
de Arakawa Under the Bridge e Nisekoi) foi competente. A dublagem
é boa, com Aoi Yūki (Ichigo de Yumeiro Pâtisserie) como Madoka, Eri
Kitamura (Ami de Toradora!) como Sayaka, Chiwa Saitō (Kim de Soul
Eater) como Homura, Emiri Katō (a Blair de Soul Eater) como
Kyuubei, e muitos outros. O estúdio Shaft (o mesmo de Nisekoi e da
série Monogatari) fez um bom trabalho.
Comentários Gerais
Madoka Magica conseguiu ser um sucesso de público e crítica,
conquistou fãs ao redor do mundo e ainda conseguiu reinventar um gênero antes
taxado como “infantil”. Aliás, Madoka não é nem o primeiro a criar um mahou
shoujo sombrio. Sailor Moon já era
assim, pelo menos o mangá, mas quando a Toei fez o anime ela alterou muitas
coisas do material original, que veio ficar com a imagem infantil que
conhecemos (e que foi aumentada por causa de nossa censura). Madoka virou
um clássico, isso afirmo sem ter medo. Um anime no qual poucos botavam fé
conseguiu trazer uma experiência única, que mexeu não só com os japoneses ou
comigo aqui, mas com todo mundo que viu este anime. É fácil sentir a sensação
de dever cumprido que é passado no final. O sucesso é tão grande que gerou 3
filmes, e os produtores não descartam a possibilidade de uma segunda temporada,
que, sendo sincero, acho desnecessário, uma vez que o final passou uma sensação
de que tudo terminou ali. Prolongar só iria afunda ruma história que se
encerrou como deveria. No máximo, deviam fazer um especial para personagens
como o Kyuubei ou a Homura.
Arrependo-me de não ter acompanhado este anime quando ele
saíu em 2011. Recomendo demais este anime. Se você procura algo mais impactante
e que fuja do tradicional mahou shoujo
que você conhece, recomendo este anime. Nem o mais coração de pedra pode dizer
que não deixou uma lágrima escapar ou a emoção vir a tona nos episódios finais
dessa série. Ela foi especial, tão especial que dizer tudo que eu senti é
praticamente impossível nesse texto. E olha que com certeza muita coisa ficou
faltando aqui.
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