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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Analisando- Reinventando o mahou shoujo com Puella Magi Madoka Magica

Aviso: Vai ter muito spoiler sobre o anime, então leiam por conta própria e risco.

Por MIKA

O anime da analise de hoje é um que me pediram muito pra analisar, e acho bem merecedor isso: Puella Magi Madoka Magica, mas conhecido como Mahou Shoujou Madoka Magica. Uma coisa que preciso falar sobre este anime antes de fazer a análise: Se você acha que é um anime infantil só por ser de garotas que se transformam e combatem o mal, numa fórmula a lá Sailor Moon, vou te dar um conselho: Esqueça tudo que você sabe sobre garotas mágicas. Esqueça. O que você verá aqui vai muito além do que você imagina. Confesso que minha primeira impressão sobre Madoka foi isso, mas quando acabei de ver, percebi que eu estava muito enganado. O que eu vi foi algo bem diferente do imaginado. A série contou com 12 episódios e foi rodeada de situações complicadas. Primeiro ameaças de cancelamento devido a cenas mais fortes de violência. Depois teve seu final adiado pelo terremoto que afetou o Japão em 2011. Fato é que ela conquistou admiradores, fãs e “seguidores” em seu período de exibição. Sua venda de DVD’s e Blu Rays liderou a Amazon e a expectativa da mídia foi enorme, chegando até mesmo a ser estampada no jornal de maior importância no Japão. O estardalhaço foi muito, mas foi merecido. Madoka marcou, e será para sempre um anime que ficará guardado na lembrança daqueles que o assistiu. Mas o que ele tem que o faz ser um anime tão comentado? O que o difere dos mahous shoujos tradicionais? Vale lembrar que este texto vai mais por minha opinião, por isso podem me criticar nos comentários e dizer sua opinião sobre o anime em questão. Então, vamos seguir em frente!
A história
A história gira em torno de Madoka Kaname, uma estudante de 14 anos que vive com sua mãe, pai e irmão mais novo. Possui amizades na escola e vive uma vida comum, como qualquer garota da sua idade. Uma noite, ela sonha com uma garota lutando em um mundo destruído, e no dia seguinte, a mesma garota aparece como nova aluna de sua classe. Neste mesmo dia ela escuta uma voz pedindo por ajuda e decide ir atrás daquele pedido. Ela então encontra uma criatura “fofinha” chamada Kyuubei, que estava sendo perseguido por alguém. Kyuubei conta a Madoka e sua amiga Sayaka Miki que ele é o responsável por “recrutar garotas mágicas” para proteger o mundo da ameaça de bruxas, seres monstruosos que se aproveitam dos medos das pessoas e os usam para aterrorizar, matar e consumir a alma. Tudo que Madoka e Sayaka têm a fazer é se transformar em Mahou Shoujo em troca de um desejo qualquer a ser realizado. As duas começam a pensar no que elas gostariam de pedir, enquanto recebem “treinamento” de outra garota mágica, Mami Tomoe, uma estudante mais velha do mesmo colégio que elas e que luta a mais tempo contra as chamadas criaturas. E no meio disso tudo, elas descobrem que a aluna transferida se chama Akemi Homura, que guarda segredos e vive a todo instante tentando separar o “animal” das garotas, tentando convencê-las de não se tornarem garotas mágicas. A partir daí, Madoka começa a perceber que a “maravilhosa proposta” de Kyuubei não é tão maravilhosa assim, e que por trás de um mundo mágico, existe outro, sombrio e perigoso.
Considerações Técnicas
A partir daqui, alguns spoilers serão feitos. A maioria pode influenciar no futuro da história e do seu entendimento, portanto leiam por sua conta e risco.
Madoka foi um grande hit de 2011. Vendeu bastante, rendeu e ainda está rendendo spin offs, mangás, light novels, action figures e diversos outros produtos relacionados, além de vários outros animes fazerem referência a Madoka, como por exemplo, o engraçadinho Outbreak Company. Mas de onde vem o sucesso absoluto de Madoka Magica? Vamos por partes.
A série é um verdadeiro grande tapa na cara de quem achava que anime com garotas mágicas são sempre infantis. Aquela imagem colorida que temos em nossa mente é massacrada. A começar pelo cenário: A cidade tecnológica em que as garotas vivem passa um ar de frieza, e o mundo aonde elas vão enfrentar as bruxas é totalmente sombrio e insano. Usou fórmulas de animes já existentes e soltou na cara do telespectador um “E se nem tudo for uma maravilha?”, “E se por trás de um animalzinho aparentemente fofo exista um ser sem sentimentos e que poderia colocar sua vida em perigo?”. Tudo é posto em prova: o surgimento da expressão “grandes poderes exigem grandes responsabilidades”, a constante escolha do ser humano em suas decisões, a “troca equivalente” onde tudo tem um preço. O conceito de bem e mal. Em alguns momentos pensamos “realmente existem vilões e heróis nessa série?”.
A história tem personagens que são a linha tênue entre a ficção e a realidade: Kyuubei não foi um vilão. Madoka não foi uma heroína.  Kyuubei pôs a prova o que todo mundo sabe, que decisões erradas podem ter consequências. Nenhum desejo é feito sem esforço, sem sacrifícios. Da mesma forma que Madoka não quis em nenhum momento passar a mensagem de que ela salvaria a todos. Ela foi uma garota comum, com medos, crises, que sofria por perder as amigas, mas que ao mesmo tempo se sentia impotente. Mesmo sua escolha final de se “sacrificar” e ser esquecida por todos em troca do equilíbrio e do fim das bruxas não a leva a querer ser uma heroína. Sua ideia é uma só: Fazer com que a esperança jamais fosse esquecida.  E voltando ao Kyuubei: Toda a trama acabou sendo desenvolvida justamente pela sua presença, não como vilão, mas sim como o anti-herói. Em nenhum momento ele se importou com o bem estar das garotas. Também em nenhum momento ele se importou com a destruição da terra. A escolha era sempre das garotas, cabia a elas decidir o futuro. Tudo que ele queria é que seus objetivos fossem alcançados, e de certa forma foram. Aliás, vamos traçar um paralelo entre Kyuubei e outro personagem muito conhecido: Ryuuku de Death Note. O shinigami queria simplesmente acabar com se tédio, e para isso laçou o caderninho na Terra, e acompanhou Kira em sua trajetória. Assistia os crimes de Kira calado, nada vez em relação ao que acontecia, e não se importou nem um pouco em matar o Kira. Vejam, estou comparando Kyuubei com Ryuuku pois ele age como o nosso querido shinigami: Para ele, que se dane o que iria acontecer com Madoka e suas amigas, desde que seus objetivos fossem cumpridos, e não tava nem aí se suas açõs iriam prejudica-las. À todo momento temos a disputa e a contraposição entre ele Homura, uma verdadeira oposição de pensamentos e ideais (tipo a oposição entre Kira e L). Kyuubei quebrou um aparente dogma: Que todo animalzinho que acompanha garotas mágicas (tipo o Kero de Sakura Card Captors ou a Luna de Sailor Moon) precisam ser confiáveis e engraçadinhos.
As personagens balanceiam entre o real e a fantasia. Nenhuma toma atitudes ou tem sentimentos surreais. Cada uma tinha seus próprios conflitos. A começar Sayaka que queria ajudar o interesse amoroso dela a voltar a tocar violino. Ela sacrificou tudo que tinha por isso, e ainda usou esse poder para salvar uma amiga. E consequentemente, essa mesma amiga viria tomar o garoto para si. Não tem momentos em que você fica pensando que o que inicialmente era certo, mais tarde te traria consequências? Você ajudou uma pessoa, e descobre que usa ajuda iria mais pra frente ser usada contra você. São questões mais reais do que imaginamos. Mesmo trazendo a imagem de ser um anime fantasioso, seus personagens conseguem ser mais humanos do que imaginamos.
 Aliás, um fato interessante: Segundo a maioria que viu Madoka Magica, a protagonista deste anime não é Madoka, e sim a Homura. Embora o anime tenha levado o nome de Kaname Madoka (que, aliás, passa o anime inteiro como uma garota normal, e só vira uma garota mágica no último episódio), e de sua escolha ter sido a grande conclusão para a história, é em torno da Homura que tudo acontece. A todo o momento ela é a personagem principal, todo o climax acontece por causa das viagens interdimensionais dela, da vontade de salvar sua melhor amiga da morte, do sentimento puro de amor entre as duas personagens. O episódio 10 foi essencial para mostrar isso, já que é nele que a história realmente mostra como se desenvolveu até chegar ao primeiro episódio da série. Desde o começo os desejos de Homura de cumprir sua promessa e seu poder de viajar no tempo foi o grande determinante para toda a conclusão do anime. Sua amizade com Madoka é emocionante, de cortar o coração ao meio na cena em que elas se despedem em um último abraço. Incrível ver que um anime consegue passar tão bem um sentimento dessa forma. É o amor na mais simples e pura forma.
Outra que mercê destaque é Kyoko, que se sacrifica somente para salvar Sayaka de seu erro, matando as duas. Ela esteve desde o começo “lutando” com Sayaka e tentando impor a vontade de tirar a garota de uma luta sem fim. O preço foi caro, e ambas acabaram pagando com a vida em uma das cenas mais emocionantes da série. Aliás, a amizade de Sayaka e Madoka é uma das coisas mais lindas que podemos ver. Ali, há uma prova viva de que amigas de verdade realmente ficam juntas até nas situações mais difíceis. Madoka tentou a todo instante evitar o pior para sua amiga, esteve ao seu lado, errou em diversos momentos, mas acima de tudo sempre lhe trazia a calma e a segurança de que tudo estava melhor quando estava ao seu lado, seja em um dos abraços ou na realização de ver seu amado tocando violino pela última vez. Aonde vocês não vêm amizade verdadeira?
Não dá para falar de todos as personagens, eu preferi dá mais foco nas que achei impactantes. Mas só pelos personagens, o anime já ganha um brilho. Vamos para a trama. O anime, como falei, dá um soco em sua cara como se dissesse ‘”Quem disse que todo mahou shoujo precisa ser fofinho e infantil?”. Madoka foge do tradicional. É um anime violento, com mortes e cenas impactantes. A cena em que Mami perde a cabeça no episódio 3 na luta contra uma bruxa é aterrorizadora e talvez um pouco perturbadora, mas serve para ponto de choque do anime. A partir dali vemos o real significado da série, que mesmo boa, ainda não havia ficado claro. Não seria algo comum, isso já ficava claro. O desespero entre as personagens começava a tomar forma, as brigas entre elas também. Dúvidas, problemas pessoais e tudo que uma garota de 14 anos está acostumada a passar se misturavam com a dúvida de ter um desejo ou não realizado. A escolha de assumir novas responsabilidades começava a tomar uma dimensão assustadora. Um dos grandes atrativos da série é que em nenhum momento do anime a história se perdeu. Ela foi totalmente bem amarrada do início ao fim e isso é inegável. Confesso que me pareceu um pouco confuso seu desenrolar, mais isso porque eu não estava acostumado com um anime assim. A cada episódio que se decorre até o final a sensação de escuridão e da falta de luz no anime é cada vez mais notável. No último episódio não temos nenhum ponto de “luz natural”. Outra coisa interessante: também no último episódio a mãe de Madoka diz que sua filha tem mudado muito, que não desabafa mais em nenhum momento com ela e que se tornou mais fechada. E isso realmente acontece! Percebemos a constante evolução da personagem e vivemos juntos a ansiedade de quando ela iria aceitar a proposta de Kyuubei de se transformar em uma Mahou Shoujo. Aliás, um ponto que achei legal foi o fato dele passar uma mensagem nada clichê: Tem sempre alguém lutando por nós, sejam nossos pais ou amigos, e devemos agradecer a eles, e continuar seguindo em frente para que o esforço de todos valha a pena.
 Madoka faz forte referência a vida real e a religião católica. As bruxas representariam nossos “demônios interiores”, a tal Noite de Walpurgis (tido como o “apocalipse” do anime) é, na verdade, uma festa europeia tida pela igreja católica como um culto ao diabo. Aliás, o final de Madoka coincidiu com mais um fato: dia 22 de Abril, a sexta feira da paixão. Mesmo se você não for católico, deve saber do que se trata. Na história, Jesus morreu nessa data para pagar pelos nossos pecados. Lembra-te algo? Sim, isso memso. Madoka decide trocar sua vida para salvar a todos, não? Será que esse fato foi intencional? Seria uma conspiração dos produtores do anime? Ninguém oficialmente se pronunciou quanto a isso, mas vale lembrar que essa é uma data mundial, e como as referências de religião são presentes no anime, não duvido nada.

A animação é boa, temos um traço diferente (feito por Takahiro Kishida, o mesmo de Durarara!! e Noein), que ao primeiro olhar parece “rascunho”. O anime chama a atenção pela mistura com elementos surreais, cenários que são composições como em um recorte e colagem de imagens de revistas e objetos aleatórios. A trilha sonora é um show a parte, e além dos temas “Connect” de ClariS e “Magia” de Kalafina, e vale destacar toda a composição feita por  Yuki Kajiura, o que é a uma farta representação de qualidade. A direção de Akiyuki Shimbo (o mesmo diretor de Arakawa Under the Bridge e Nisekoi) foi competente. A dublagem é boa, com Aoi Yūki (Ichigo de Yumeiro Pâtisserie) como Madoka, Eri Kitamura (Ami de Toradora!) como Sayaka, Chiwa Saitō (Kim de Soul Eater) como Homura, Emiri Katō (a Blair de Soul Eater) como Kyuubei, e muitos outros. O estúdio Shaft (o mesmo de Nisekoi e da série Monogatari) fez um bom trabalho.
Comentários Gerais

Madoka Magica conseguiu ser um sucesso de público e crítica, conquistou fãs ao redor do mundo e ainda conseguiu reinventar um gênero antes taxado como “infantil”. Aliás, Madoka não é nem o primeiro a criar um mahou shoujo sombrio. Sailor Moon já era assim, pelo menos o mangá, mas quando a Toei fez o anime ela alterou muitas coisas do material original, que veio ficar com a imagem infantil que conhecemos (e que foi aumentada por causa de nossa censura). Madoka virou um clássico, isso afirmo sem ter medo. Um anime no qual poucos botavam fé conseguiu trazer uma experiência única, que mexeu não só com os japoneses ou comigo aqui, mas com todo mundo que viu este anime. É fácil sentir a sensação de dever cumprido que é passado no final. O sucesso é tão grande que gerou 3 filmes, e os produtores não descartam a possibilidade de uma segunda temporada, que, sendo sincero, acho desnecessário, uma vez que o final passou uma sensação de que tudo terminou ali. Prolongar só iria afunda ruma história que se encerrou como deveria. No máximo, deviam fazer um especial para personagens como o Kyuubei ou a Homura.
Arrependo-me de não ter acompanhado este anime quando ele saíu em 2011. Recomendo demais este anime. Se você procura algo mais impactante e que fuja do tradicional mahou shoujo que você conhece, recomendo este anime. Nem o mais coração de pedra pode dizer que não deixou uma lágrima escapar ou a emoção vir a tona nos episódios finais dessa série. Ela foi especial, tão especial que dizer tudo que eu senti é praticamente impossível nesse texto. E olha que com certeza muita coisa ficou faltando aqui.
 Um dos melhores animes que já vi na minha vida e que ficará pra sempre guardado na memória, junto de outros como Kill la Kill e Fullmetal Alchemist. Obrigado SHAFT, por me proporcionar uma experiência tão incrível e grandiosa quanto essa.  Missão cumprida.

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